Durante uma semana, a repórter JÚLIA REIS encarou o desafio de topar tudo o que aparecesse em sua vida. E descobriu coisas importantes sobre si mesma.
“Negativas e recusas são inevitáveis, principalmente se a situação coloca em jogo nosso bem-estar físico e emocional. Mas até que ponto simplesmente nos acostumamos a dizer “não” para qualquer proposta que sai da nossa zona de conforto? Será que automatizamos uma série de pequenos limites para nossa vida – e, aprisionadas por eles, estamos perdendo experiências valiosas? Tomada por esses questionamentos, aceitei a encomenda de passar uma semana dizendo “sim” para tudo (ou quase!). A idéia era aceitar convites, pedidos e oportunidades que surgissem, mesmo que triviais, para os quais eu normalmente diria “não”. Um exercício de combater, no dia-a-dia, acomodações, inflexibilidade e inseguranças. Comecei desbravando um território que sempre achei o maior “mico”: ir a um karaokê. Há meses enrolava as amigas e fugia do convite. Mas, quando começou a melodia de Eu preciso dizer que te amo, minha voz, trêmula, fluiu e me senti de fato em uma temporada de experiências libertadoras. Para que nos levarmos tanto a sério se podemos puramente nos divertir? Outros desafinados estiveram presentes naquele dia e meu desempenho não foi o mais marcante. Mas fui para casa com meu próprio troféu de autoconfiança.
Já que a exposição não era mais um obstáculo, enfrentei o microfone novamente e traduzi, a pedido de amigos, uma palestra budista. Anunciei logo de início que eu não era uma profissional e que gostaria de ajuda para complementar as lacunas do meu inglês. Com isso consegui um clima descontraído, colaborações da platéia e, mais que tudo, aceitação da minha imperfeição. Sem contar a tranqüilidade que me trouxe aquela sessão de meditação ao fim de um dia tenso. Repetindo os ensinamentos da professora, percebi quanto aqueles conceitos valiam para minha vida, tão cheia de ansiedade e de apego à auto-imagem.
Por fim, decidida a romper barreiras do ego e a me libertar de estereótipos, tomei consciência do meu status de solteira e aceitei sair novamente com um homem que já havia declarado não querer compromisso. As regras de conduta e o orgulho feminino me diziam para evitá-lo, mas, ao assumir a diferença de objetivos entre nós, consegui desfrutar de ótima companhia, afeto sincero, risadas e de uma relação que foi além da amizade, mesmo que sem futuro.
Nada é para sempre – salvo filhos e tatuagens -, e as decisões não necessariamente definem quem somos. Mas um pequeno “sim” pode quebrar aquela verdade que carregamos com apego e nos libertar de uma expectativa tão rígida em relação ao mundo. Eu disse “sim” para a vida que estava acontecendo ao meu redor em vez de simplesmente esperar, parada, que algo mais acontecesse.
Fonte: Transcrito da Revista Cláudia, novembro 2008
“Negativas e recusas são inevitáveis, principalmente se a situação coloca em jogo nosso bem-estar físico e emocional. Mas até que ponto simplesmente nos acostumamos a dizer “não” para qualquer proposta que sai da nossa zona de conforto? Será que automatizamos uma série de pequenos limites para nossa vida – e, aprisionadas por eles, estamos perdendo experiências valiosas? Tomada por esses questionamentos, aceitei a encomenda de passar uma semana dizendo “sim” para tudo (ou quase!). A idéia era aceitar convites, pedidos e oportunidades que surgissem, mesmo que triviais, para os quais eu normalmente diria “não”. Um exercício de combater, no dia-a-dia, acomodações, inflexibilidade e inseguranças. Comecei desbravando um território que sempre achei o maior “mico”: ir a um karaokê. Há meses enrolava as amigas e fugia do convite. Mas, quando começou a melodia de Eu preciso dizer que te amo, minha voz, trêmula, fluiu e me senti de fato em uma temporada de experiências libertadoras. Para que nos levarmos tanto a sério se podemos puramente nos divertir? Outros desafinados estiveram presentes naquele dia e meu desempenho não foi o mais marcante. Mas fui para casa com meu próprio troféu de autoconfiança.
Já que a exposição não era mais um obstáculo, enfrentei o microfone novamente e traduzi, a pedido de amigos, uma palestra budista. Anunciei logo de início que eu não era uma profissional e que gostaria de ajuda para complementar as lacunas do meu inglês. Com isso consegui um clima descontraído, colaborações da platéia e, mais que tudo, aceitação da minha imperfeição. Sem contar a tranqüilidade que me trouxe aquela sessão de meditação ao fim de um dia tenso. Repetindo os ensinamentos da professora, percebi quanto aqueles conceitos valiam para minha vida, tão cheia de ansiedade e de apego à auto-imagem.
Por fim, decidida a romper barreiras do ego e a me libertar de estereótipos, tomei consciência do meu status de solteira e aceitei sair novamente com um homem que já havia declarado não querer compromisso. As regras de conduta e o orgulho feminino me diziam para evitá-lo, mas, ao assumir a diferença de objetivos entre nós, consegui desfrutar de ótima companhia, afeto sincero, risadas e de uma relação que foi além da amizade, mesmo que sem futuro.
Nada é para sempre – salvo filhos e tatuagens -, e as decisões não necessariamente definem quem somos. Mas um pequeno “sim” pode quebrar aquela verdade que carregamos com apego e nos libertar de uma expectativa tão rígida em relação ao mundo. Eu disse “sim” para a vida que estava acontecendo ao meu redor em vez de simplesmente esperar, parada, que algo mais acontecesse.
Fonte: Transcrito da Revista Cláudia, novembro 2008
Um comentário:
Depois de tanto tempo estou dando uma bisoiada nos blogs.E fico contente em saber que estão firmes!
Bom fim de semana!
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